quinta-feira, 4 de junho de 2009

A Estória do Hotel Ámen

Depois de Alhur eu e o MEC iniciámos outra aventura.
Naqueles dias o estado de alvoroço era permanente e o mundo acabava dali a ½ segundo... tanta coisa para viver, tudo para sentir.
***
Abrir parêntesis:
Encontrei-me, pela 1ª vez, com o MEC no dia 16 de Janeiro de 1982 . Estava a viver em Carcavelos acabada de chegar da Suécia. A ideia de Alhur pairava no ar, um pouco indefinida, mas ía dirigindo a minha necessidade de compor, que era intensa. Nesse dia falámos sobre a vontade recíproca de trabalharmos juntos e entreguei-lhe uma cassete para ele “letrar”.
O 2º encontro foi exactamente 1 mês depois. 16 de Fevereiro, a meio da tarde, nas escadas da Valentim de Carvalho, na Rua Nova do Almada. Tenho-o mais presente pela situação em si. Eu a descer as escadas com um macacão azul forte (último grito vindo da Suécia), ele a subi-las com o seu laço imprescindível e pasta de couro na mão (imagem de marca). Parámos, demos uma forte gargalhada e encetámos caminho para uma das salas da editora, onde estivemos a escutar as músicas e a ler a letras. Combinámos um almoço para o dia seguinte, na Mercearia, com a promessa de eu levar os temas gravados, sem os lá-lá-lás.
E assim foi. Cheguei um pouco atrasada, mas com uma nova cassete trabalhada na noite anterior. Recordo a sensação de alvoroço de quem inicia o primeiro voo. Uma mistura de apreensão e júbilo, um estado contagiante e até infantil. Sabia que a minha vida, depois disto, não ía voltar a ser a mesma. O Miguel propôs que a produção ficasse a cargo de Ricardo Camacho (que havia musicado a letra de Foram Cardos foram Prosas em 1981) e eu propus que se chamassem uns músicos novos que tinha estado a escutar. Tinha comprado o LP quando voltei para Portugal e achava-os diferentes de tudo o que por cá existia. Eram os Heróis do Mar.
Tremendamente confiantes levámos estas ideias para a editora, embora com algumas resistências pelo meio, porque os Heróis do Mar (no conceito deles) eram músicos de plástico... lololol
O resto já se sabe. As sessões de estúdio foram pura descoberta, experimentalismo, com laivos de magia à mistura e eu pensei que, a solo, ia ser feliz para sempre!
Parêntesis fechado.
***
Não parava de compor e o Miguel de escrever. Assim surge Hotel Ámen, que de um lado era carne e do outro espírito. Grandes planos! A editora, a meu pedido, concordou que fosse gravado no Mosteiro dos Jerónimos e, para isso, fez deslocar o seu estúdio móvel até Belém. A produção, desta vez, ficava a cargo de Carlos Maria Trindade. Não me lembro quantos dias se passaram. Sei que tudo acabou abruptamente. Ou porque achavam que não ia ser comercial, ou porque não se chegava a acordo sobre algumas situações, Hotel Ámen faliu.
E uma dessas situações estava relacionada com a minha participação na peça Em Carne Cor de Rosa Encarnada da autoria do MEC. A minha personagem, que cantava juntamente com o Luís Madureira, acabou por ser “dispensada” pela actriz Graça Lobo, uns dias antes da estreia...
Nestas coisas não há só um culpado, eu assumo que a pressão deu cabo de mim. Fiquei cansada e deprimida. Abandonei o "palco" onde se desenrolava a tragédia e afastei-me. Fiquei magoada com todos, incluindo o MEC. Saí de Lisboa, recolhi-me em Alhur. Decidi dedicar-me a plantar ervas de cheiro e toda a espécie de chás curativos.

3 comentários:

  1. Será que no palco pântano,onde tão orgulhosamente rejubiliam,
    existem ervas de cheiro e chás curativos?
    Cheiros posso imaginá-los!!..Curativos??!
    Azar o deles...

    Alhur permanece.
    Intocável...

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  2. Entre os Lás e Cás de uma vida. Permanece. Que bom poder fazer esses caminhos!
    :-)

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  3. Né, resta alguma gravação deste tempo? Ando a ouvir o Alhur em loop, e gostava imenso de poder escutar mais qualquer coisa, por muito que inacabada, deste período. Sei que este post é antigo, e o Hotel mais ainda. Queria só que soubesse que ainda há quem queira ouvir.

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