sexta-feira, 31 de julho de 2009

Margens



Aconteceu de novo. Num segundo distraído olhaste o percurso deposto. Nem sabias que dentro de mim um gosto de sol e lua fluía. O mistério impassível derramou nos troncos o mundo oculto das margens.



*
Música: Yar Mara - Sufi Shahram Nazeri

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Por este Almonda acima

Quando nos encontrámos para servir a última refeição sorrimos e brincámos. "Já só falta esta noite... são só mais 7309123747078237 refeições!!!". O cansaço era evidente e estava instalado de todas as formas: olheiras, bocejos, movimentos um pouco mais lentos, pés inchados...
Calhou-me uma mesa com 20 pessoas e confesso que nunca pensei o que era fazer isto até à altura. Dou muito valor a quem faz desta vida a sua profissão e vou pensar 2 vezes antes de me impacientar com um pedido que custa a chegar. Ai vou vou.


Os Funfarra tocaram em vários pontos do recinto chegando a tomar de assalto o lado de dentro de um balcão de pipocas e farturas. Meteram-se com as pessoas, que dançavam à volta deles e lá seguiam caminho com uma procissão "à Hermeto Pascoal".


O palco principal recebeu Teresa Salgueiro e o Lusitânia Ensemble.
Pressente-se o esforço que a Teresa está a fazer para seguir o seu caminho. Vinte e quatro anos nos Madredeus não foram em vão... principalmente no que toca a ser independente e assumir um novo caminho 24 anos depois. Isso tem custos... não me baseio em nenhuma teoria da conspiração, mas tenho quase a certeza que a libertação está a ser complexa... Aplaudo a sua decisão e admiro-lhe a coragem. Sei do que estou a falar e não foram precisos 24 anos nem 24 meses!
No entanto, passou muito tempo e despir velhos hábitos não é assim tão simples.
Teresa permanece esfíngica no palco. Não comunicou com o público. Estava lindíssima (mais do que qualquer outra vez) apresentou o seu reportório de Matriz e La Serena, mas acho que há ainda bastante trabalho de descolagem para fazer em relação ao grupo a que pertenceu.
O cunho clássico e acústico a juntar ao som do acordeão empurram-nos, inevitavelmente, para a atmosfera anterior. Mesmo com temas como Senhora do Almortão, não houve escapatória. E o refrão "olha a laranjinha que caiu caiu", que muita gente acha (eu incluída) não pertencer à canção tradicional, mas sim adoptada por um motivo qualquer de enorme mau gosto, prevaleceu na versão que a Teresa cantou. Mas entendo a sua intenção em Matriz. Entre as canções houve silêncios incómodos e algumas paragens que não percebi. Também não fiquei com a certeza que aquele seria o melhor local para um concerto deste tipo.
A Teresa era uma miúda muito gira que cantava fado nas tascas do Bairro Alto.
Quando ingressou nos Madredeus manteve por pouco tempo essa frescura vocal passando a cantar agudíssimo, com muita técnica e problemas de dicção. Não se consegue seguir uma letra nas gravações posteriores ao 1º álbum.


Aguardo pela emancipação total da Teresa, que se tornou numa bela mulher e torço para que se descubra de outras maneiras.

No palco 2 a Canção de Coimbra proporcionou o momento das expressões nostálgicas e atentas em jeito de conclusão. A despedida, o fim da festa, o começo de outro ciclo, de outra vida. Lembrei-me de Artur Paredes, António Portugal, Francisco Menano, Carlos Paredes, António Brojo, Edmundo Bettencourt, António Menano, Luís Góis, Fernando Machado Soares, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Augusto Hilário... que maravilhas nos deixaram!


Cheguei a casa com uma satisfação imensa. Missão cumprida. Nestes 9 dias aprendi muito, senti ainda mais, revi amigos, conheci outros mundos nas margens do meu Almonda. E que boa música veio por este rio acima!


sábado, 18 de julho de 2009

Festas do Almonda - penúltimo capítulo

E as Festas do Almonda já foram, assim como o baile-por-entre-as-mesas-da-barraquinha. Foram noites intensas de muito trabalho e olheiras a condizer, mas também de muito amor à camisola e com música de grande qualidade a acompanhar.
 
Danças Ocultas um concerto belíssimo, que só pecou por não ter sido feito num local como, por exemplo, o auditório da Biblioteca Gustavo de Bivar Pinto Lopes, que tem capacidade para 100 pessoas, mas bem mais adequado para o efeito. O público dispersou-se e, como acontece em ambientes ao ar livre, o ruído das conversas, brincadeiras e risadas, sobrepunha-se a tudo. Sei como é bem desconfortável quando isso acontece.
A Municipale Balcanica, que tocou no palco 2, foi a festa que foi. Parecia que tínhamos o "diabo no corpo" aos pulos e saltos.
Só para terem uma ideia...



No dia seguinte, uma enchente no Jardim das Rosas pôs-nos de "prevenção". Se houve noite em que demos o litro todo e mais que houvesse, foi nesta.
 
João Gil com Tito Paris e os Shout fizeram um "concertão". As canções que o João compôs ao longo da sua carreira acompanhadas pelo público do início ao fim provaram o seu talento. Havia uma alegria naquele palco, de quem adora o que faz, que me fez sorrir emocionada. Tito Paris voltou a deslumbrar (esteve nestas festas o ano passado com um concerto memorável). Não me vou esquecer de Nha Pretinha. Nunca.



No sábado levantou-se um ventinho desconfortável. As toalhas das mesas tentavam levantar voo mas, mesmo assim, a barraquinha encheu e quem nela servia não teve mãos a medir!

A Orquestra Típica Fernandez Fierro trouxe o Tango para o Jardim. Fiquei fã e já encontrei no CDGO Mucha Mierda e Tango Antipánico, que encomendei. Falta Vivo en Europa, Destrucción Masiva e Envasado en Origen.
Fã fiquei dos Diabo a Sete, que foram uma total surpresa para mim. Passo a transcrever esta apresentação do grupo:

"Acreditamos que os ritmos e melodias que tocamos e que ouvimos por todo o país, seja em recolhas seja no labor musical de outros grupos, não são meros ecos de um passado mumificado.Traduzem, isso sim, uma forma de interpretar a riqueza musical do nosso país, feita de permanências, esquecimentos e cruzamentos fecundos com outras culturas. Se o lustro que habitamos é aquilo a que se convencionou chamar de música tradicional, não o fazemos, contudo, com o intuito de recuperar uma pretensa pureza perdida ou de tratar em termos de rigor científico as sonoridades e os instrumentos. Transportamos ritmos e sons já outrora esboçados, mas com o intuito de fazê-los reviver, através das nossas experiências e do prazer que sentimos em tocar. É com estes ingredientes que pretendemos agitar um caldeirão antigo e de lá extrair algo de novo. (Diabo a Sete)
"Somos uma espécie de cozido à portuguesa, com menos couve e muito mais enchidos..."


Não podia estar mais de acordo com o que foi dito à excepção dos enchidos... (que a minha alimentação é vegetariana eheheheh)

Aconselho vivamente a aquisição de PARAINFERNALIA.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Paulo de Carvalho


Não escrevi nada sobre a noite dos Caravan Palace porque as olheiras e a dor de costas tomaram conta da ocorrência, o que me obrigou a ficar em casa. Mas ontem, nem que tivesse de me arrastar, precisava de ir! A noite avistava-se concorrida, logo a barraquinha tinha de ter todos os braços disponíveis. E também porque era a noite do Paulo de Carvalho.

O Paulo marcou-me particularmente no festival de 1971 com Flor Sem Tempo. Esta canção passou a fazer parte do meu reportório caseiro e foi das primeiras a ser tocada na 1ª viola que tive. Nessa altura formava com a minha amiga de escola, Anabela Tavares, um duo com o nome sugestivo de Girls. Mais tarde passámos a ser as Love Peace and Tears. Flor Sem Tempo, Blowin' in the Wind, The Needle and the Damage Done, Wild Horses... a sonoridade e atitude dos 70 que nós ouvíamos e gostávamos de cantar.


Voltando à Flor sem Tempo, já de si uma bela canção, teve o efeito que teve em mim por causa da voz do Paulo, que me deixava de boca aberta. Deixava a qualquer um!
É a melhor voz masculina de sempre. Não tenho qualquer dúvida sobre isso.

Lembro-me dos discos dos Sheiks tocarem nas festas lá de casa e o Paulo começar com "Tell me, tell me bird..." e a dança se desenfrear mais. Era a loucura dos Beatles e dos Sheiks! Os meus irmãos "twistavam" e eu acompanhava, claro! Usávamos muito essa canção nas viagens infindáveis entre Coimbra e Riodades (as férias grandes eram MESMO grandes: 1 mês de praia, 1 mês de campo e distâncias agravadas por péssimas estradas). Eu e a minha irmã cantávamos a duas vozes e bisávamos ao longo daquele tédio rodoviário, para não o sentirmos tanto...



Quando surgiu E Depois do Adeus, que ganhou a dimensão que conhecemos, a carreira do Paulo estava mais que consolidada e era, como é hoje, a Voz da música portuguesa. A minha mãe afirmava de forma peremptória, de quem nunca se engana (uma forte característica da sua personalidade): " se este rapaz fosse americano era maior que o Frank Sinatra e olhem que para mim é Deus no céu e Frank Sinatra na terra!"



O Paulo fez sempre o que quis com aquela voz que Deus lhe deu. Surpreendeu sempre pelas suas interpretações. Escreveu canções como ninguém e inventou o etno-urbano! A explicação desta designação foi revelada pelo próprio numa entrevista ao Correio da Manhã:
"Comecei por cantar pop-rock com os “Sheiks”, depois cantei ligeira e mais tarde um rock-funky-jazz, porque gosto de experimentar novos desafios, mas acho que baralhei o meu público. Percebi que estava a fazer tudo errado e a partir de 1985 achei que me devia preocupar mais com as minhas raízes. Se eu sou de Lisboa e a música da cidade é o fado, decidi partir deste e misturá-lo com os sons de culturas a que estamos ligados há séculos e a africana é uma delas. E é esta a música que estou a fazer e a que chamo etno-urbana. Portanto a minha música do futuro é etno-urbana, designação que inventei."



O Jardim estava cheio, o Paulo cantou como nunca, comunicou de forma espontânea e cheia de humor. Iniciou com Flor sem Tempo (eu parei o que estava a fazer por razões óbvias) e continuou com as canções que compôs nestes 47 anos de carreira.
O público cantou com ele e festejou.
Ele merecerá sempre cada aplauso.



Já festa finda e com os jantares todos servidos (e se houve movimento!!!) os refrões ainda se entoavam pelo jardim, uns em forma de assobio, outros com letra completa. Já era dia seguinte quando me pus a caminho de casa a cantarolar a letra que ficou:

Gostava de estar aí

A ver o que se passa aqui, no palco

P’ra não fazer juízo errado

Pois isto de cantar,

É muito mais difícil

Cá deste lado

Às vezes vocês daí

Nem sonham o que vai pra’qui, no palco

Nem pensam que na vossa frente

Quem canta, que vos diz as coisas

Também é gente

Gente que trabalha,

Como um Carpinteiro

Como um Camponês

Ou como um Mineiro

Gente que faz o trabalho

Como faz amor,

Amor verdadeiro

Gente que vos diz,

Que a canção sou eu,

A canção és tu,

Por isso cresceu

A canção é p’ra vocês,

E só p’ra vocês,

A canção nasceu




terça-feira, 7 de julho de 2009

Lula Pena

Lula Pena.
Adoro a voz desta mulher.
Cantou no palco 2 depois da Orquestra Imperial ter levado os tais "clássicos de salão" ao palco 1.
Não me vou deter muito sobre eles. É música brasileira, adere-se com facilidade à dança mas, dentro do género, prefiro a Música Ligeira.

Lula Pena é de uma intensidade arrepiante. A voz grave e o vibrato invulgar não parecem deste mundo. Sempre a achei muito mais do que uma cantora que toca guitarra, ou do que uma intérprete de fados e tangos. Ela é feita disso tudo mais aquele "it" que uns têm e outros não... Está a horas luz do reduto mortal. Ela é tronco, raiz e copa. Ela é pássaro e lince. Ela é complexa. Labiríntica. Etérea. Visceral.

Estava a fazer o soundcheck quando cheguei ao Jardim. Final de tarde, algum vento, com os meus pensamentos dirigidos para o trabalho da barraquinha e a imaginar como se iam dispor as mesas para o jantar. Pareceu que o mundo dava uma volta ao contrário. Fiquei ali parada a desejar ser invisível. Lula Pena, sentada numa cadeira, pedia mais som nos monitores, fechava os olhos e cantava com tudo o que tem. Para mim, aquele momento já foi o espectáculo. Senti-me privilegiada e quando mais tarde me apercebi que não ia poder assistir ao momento grande da noite, sorri. Ok, levas uma dor de costas, mas ouviste a Lula sem entremeadas pelo meio!


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mousse de Musafir

Quando cheguei à nossa barraquinha estavam a ser descarregadas caixas de frutas oferecidas por mão amiga. Começámos de imediato a descascar e a cortá-las em pedacinhos. A ementa incluía, graças a esta oferta, a novidade de dois tipos de sangria: champagne e vinho. E uma salada de frutas deliciosa. Da cozinha chegava o aroma da sopa da pedra a acabar de fazer e as sardinhas, vindas de Peniche, estavam a ser colocadas no grelhador a carvão. No outro já se assavam febras e entremeada.

No palco 2 os "Ganhões" de Castro Verde davam início à festa. O Alentejo cantado por quem conhece os sinais da terra e sabe o que é o suor do trabalho. O nosso povo é assim. Alma de artista que traduz a vida, que nem sonhamos, de forma simples e tão profunda. E depois aquelas vozes. Aquelas vozes com o mundo lá dentro, que me trouxeram à lembrança Zazou e as polifonias da Córsega. A primeira vez que ouvi Giramondu achei que era o nosso Alentejo dentro de uma ilha e num dialecto desconhecido.


Voltei de novo para as mesas assim que os jantares começaram a sair. E foi em catadupa, não havia mãos a medir! Já não tinha o tabuleiro amarelo que, de tanta loiça carregar, rachou ao meio. Fui buscar outro, todo florido, que me deu mais segurança nos "lás e cás" entre a copa, bar e mesas. A broa, de tão fresca, dificultava a forma perfeita das fatias. Tentei cortá-la o melhor possível com a faca de serrilha mas, de quando em vez, lá ficava com um bocado a menos...

A ementa, como sempre, saborosíssima. Os doces, um triunfo! De tal forma que em pouco tempo da cozinha avisaram: "baba de camelo foi-se", "acabou a mousse de chocolate", "doce da casa já era", "é preciso avisar no pré-pagamento que a última taça de arroz doce vai para aquela mesa". Consegui salvar, empenhadíssima, uma mousse de manga para uma das minhas mesas, porque até me senti culpada de não ter conseguido arranjar a de chocolate, que me tinham pedido... e fui a tempo. Daí a nada, já nem de manga...

E nesta andança entre sobremesas e cafés chegam os primeiros sons das tablas. Fiquei de ouvido à escuta. Ia adivinhando o que se desenrolava no palco. Num pequeno intervalo fui espreitar e fiquei de olhos vidrados.



No palco principal, um pedaço de Rajastão itinerante. Uma dançarina, qual deusa, equilibrava bilhas de água por cima de copos empilhados na cabeça. As mãos ondulavam num prolongamento do som do harmónio, os movimentos graciosos seguiam a escala complexa do cantor. Fascinante!

Não pude alongar a minha "viagem" e não cheguei a ver o faquir. O movimento gastronómico não diminuía. Havia uma fila considerável à espera de mesa e regressei de imediato assim que os satisfeitos davam lugar aos esfaimados.
Pensei que, se fosse como a dançarina do deserto, o meu tabuleiro podia levar todos os pedidos de uma vez só e mais alguns extras. Mousse de Musafir...

domingo, 5 de julho de 2009

Segunda noite das festas

O Jardim das Rosas encheu.


Uma noite de lua-quase-cheia mais a temperatura agradabilíssima, ajudou à festa repartida por 3 palcos sucessivamente.


No grande, o Festival de Folclore com os 5 grupos anunciados. Vi uma das nossas voluntárias, que não pode auxiliar na cozinha por razões óbvias, a dançar com muita graciosidade as modas desta zona. Mas, sem dúvida, o Fandango é a ex-libris ribatejana. É admirável a rapidez e perícia daquele sapateado em jeito de "duelo".


Muitos jantares a servir. A verdade é que a música também incita a outras manifestações que não só a dança. As pessoas ficam com mais apetite! Foi o que aconteceu com a quantidade de jantares servidos até horas tardias.


As Tucanas começaram por volta das 23h (não posso assegurar porque andava de tabuleiro em riste). Assim que pude (depois dos cafés servidos) fui espreitar o palco 2 (a sorte que tenho é a nossa barraquinha ficar entre os dois palcos!).


Cinco miúdas lindíssimas, com uma proposta incomum fascinaram a audiência que dançava e pedia mais. A fusão triangular do canto e do ritmo levou-nos por caminhos encantatórios a perder de vista. A noite com as Tucanas ficou perfeita!


Voltei à realidade e fui dar continuidade ao meu serviço (assisti a 2 temas e o resto ouvi mesmo ali ao lado a bulir).

Os TNB actuaram no palco 3, que fica mesmo em frente ao nosso posto de trabalho. Um grupo de rap mas, confesso, não gosto de rap, embora o prefira ao hip-hop... experimente-se passar uma tarde com a MTV ligada. Tudo igual, dos gestos à pretensão do protesto, passando pela vulgaridade das dançantes/acompanhantes e aquele gosto inexplicável pelos oiros em forma de correntes, cachuchos, brincos e dentes revestidos a platina e, claro, os carros desportivos de gosto duvidoso, mas caríssimos. Eu fico a pensar: mas protestam sobre o quê???????????? Estão contra quem??????




Vejo e oiço uma coisa feita a metro, igual de cima a baixo, monótona, zangada e lamurienta. Samplam os que tiveram as ideias e metem por cima a falta delas... naaaaaa !
Quanto aos TNB achei-os preferíveis aos mega stars porque a arrogância e opulência era menor. Musicalmente, como digo, não posso opinar. O facto de não gostar deste género impede-me de ser imparcial.
Exemplos

sábado, 4 de julho de 2009

Na barraquinha


Ontem começaram as festas da cidade.


Estou a servir às mesas da barraquinha das Paróquias de Torres Novas com outras voluntárias. Todos aqui são. Trabalha-se segundo a habilidade e vocação. Temos 2 experts no grelhador a carvão, várias senhoras na cozinha onde preparam com mil cuidados os pratos requisitados e uma espécie de "coyote girls" no bar, onde servem bebidas para todos os gostos.

Eu e as minhas colegas de mesa andamos com as senhas dos pedidos entre a copa e o bar e tabuleiros de várias formas e feitios (o meu é amarelo!) que levam e trazem uma variedade de coisas.


A ementa é deliciosa. Sopa (da pedra, feijão com couve, caldo verde), saladas coloridas a acompanhar sardinhas, entremeadas e febras, batatas fritas e cozidas (feitas na hora), doces caseiros (brigadeiros gigantes, gelatinas de fruta, baba de camelo, bolos à fatia, semi-frios, mousse de chocolate)...


Depois de vestirmos as camisolas vermelhas e azuis com o logótipo da paróquia começa a lide! Andamos ligeirinhas porque queremos servir todos os pedidos e o mais rápido possível, fazemos equilibrismo com as loiças para libertar as mesas, tê-las sempre limpas e preparadas para os próximos clientes. Se uma está a atender as mesas que lhe foram atribuídas em simultâneo, vai logo outra dar uma ajuda no que for preciso. Por vezes, não conseguimos evitar dar um pezinho de dança, porque não há cansaço nem mau humor, que sobrecarregue o nosso estado de espírito. Tudo isto obedece a uma coordenação e cooperação entre todos. Trabalhar pelas causas normalmente resulta assim.





Gostei, especialmente, dos Konono nº.1 e dos Pontos Negros. Entre África ancestral com distorção e o rock de "paixões com acne" senti que os caminhos são muitos para a mesma linguagem. E na música assumimos todas as diferenças porque sentimos, no corpo, que são genuínas.


E agora lá vou eu...! :-))

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sophia


Soneto de Eurydice


Eurydice perdida que no cheiro

E nas vozes do mar procura Orpheu:

Ausência que povoa terra e céu

E cobre de silêncio o mundo inteiro.


Assim bebi manhãs de nevoeiro

E deixei de estar viva e de ser eu

Em procura de um rosto que era o meu

O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés, nem na miragem

Eu te encontrei.


Erguia-se somente

O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente

Como morte nascida à tua imagem

E no mundo perdida esterilmente.