«Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: 'Ao Deus desconhecido. ‘ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. “ Act 17:16-23
O sorriso iluminou-se num gesto de agradecimento e lembrou o motivo que a conduziu àquele lugar. Ajoelhou-se sobre a erva orvalhada ao mesmo tempo que o rio passava entre as margens sinuosas.
Sabia que algures um bosque de carvalhos a aguardava em silêncio sob a agitação do vento. O vento, força irredutível sibilante, desafiava o rumor da borboleta. As suas asas ora pairavam como estilhaços de porcelana ora se uniam no puzzle concluído. Nestas alturas todas as evocações felizes levam para longe qualquer fim ameaçador. Deixar existir um sonho que se transporta em condições adversas sem nenhum fragmento destruído é tarefa delicada. Porque os temporais não são coisas que se inventem, eles existem neste nosso mundo. Não é o relâmpago que assusta, mas a sua própria natureza de relâmpago.
Encostou o rosto à terra, sentiu-lhe o coração vindo das profundezas e pensou como seria se se anichasse no ínfimo intervalo entre a luz e a sombra. Com que intensidade iria essa luz e sombra passar por aqueles que viajam à janela de um comboio?
Recuperou o folgo e decidiu subir pelo carreiro e escalar fragas com os pés descalços. Inspirou o silêncio na estrita observância dos charcos de água, das metamorfoses internas, do granito e da vigília dos astros e sentiu um imenso amor por tudo o que existe.
Uma folha itinerante chegou à terra, um coração incendiado levantou voo. Querer ser tudo ainda não sendo nada… Uma voz de reza ergueu-se dos blocos escarpados. Absorvida naquele mistério, a meio do ermo crepuscular, olhou em volta cheia de infinito. Que solidão deslumbrante a sua na paisagem! Emana da terra uma mística esculpida de névoa. Lágrimas azuis misturam-se na harmonia e palavras ocultas são desvendadas.
Recitou baixinho (...) E, nos seus olhos dum negro sério e místico, sorria a infância, a idade de oiro. A saudade aprende a escutar as vozes do silêncio, uma poesia transcendente que chega à face dupla do céu; uma que se liga às raízes, outra que repousa na harmonia. A memória interpreta a profecia como a autêntica realidade, o mistério da alma e das coisas… em tudo se revê na origem do que parte e do que chega.
Surgiu uma legião, não a que entrou por terras lusas... uma outra que desceu dos céus da avenida de Roma. Havia quem dissesse que ensaiavam ali para não fazer barulho em casa, mas eu acho que foram as canções. Queriam seguir as primeiras estrelas da noite e derramar-se sobre todas as coisas visíveis e invisíveis.
*
Música: Sétima Legião - A Um Deus Desconhecido, 1984
Encostei o rosto ao texto,Maria...
ResponderEliminarSenti,o coração Borboleta.
Beijo-Metamórfico.
:) Bj* alado
ResponderEliminarA legião da sétima borboleta que, em metamorfoses, não se escondeu das cores e dos sons, nem do maravilhoso ruído que provoca o silêncio, quando o misticismo voa pelos cânticos da liberdade.
ResponderEliminarMoinho das Antas, 14/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita.
www.fisgasdotempo.blogspot.com
:)
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