Holoteta é uma pessoa ligada ao computador da nave espacial que, através dos seus pensamentos, dirige a sua deslocação "por meio de um conjunto estabelecido de curvas através de uma série conhecida de configurações". Algumas holotetas transcendem a mera experiência de ligação com o computador. in O Bailado das Estrelas de Spider e Jeanne Robinson (1979)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
COM A TUA LETRA
Porque eu amo-te, quer dizer, eu estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.
in A Musa Irregular,1991
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DUETO COM MELRO
ResponderEliminarEste anda toda a manha às pêras
com uma musiquinha no bico
e ri-se muito quando eu abro
a janela em guilhotina
do escritório
ri-se do verso lambido
diz que o troque
por mais sólidos
apetites de aldeia
se pêras não
que posso enfim não gostar delas
vá por amoras ao Telhadouro
vá aos pinhais por camarinhas
e para que escreve o tipo à mesa
com ar tão sério diz ele
deu-lhe agora a terçã?
Fernando Assis Pacheco
1979
"O Fernando tinha uma amizade silenciosa e retraída, naquela espécie de pudor desaforado com que viveu tudo na vida. Por um lado, tinha muito medo de cair em sentimentalismos e toda a poesia é feita para secar o excesso de emoção, sem nunca eliminar o puro instante de uma graça improvável. Por outro lado, avançava numa visceralidade sexual, que não respeitava protocolos ou subtilezas, que era numa pujança desmedida, a pura nudez da carne. Corria um risco, que era o de se folclorizar a si mesmo, e ser acolhido com um riso mais ou menos alarve, de quem se compraz no palavrão fácil. Daí os equívocos que podem resultar dos poemas que alguns classificarão erradamente como "eróticos". Como escreve Manuel Gusmão ((Poeta,professor universitário,ensaísta), "a minha dificuldade , confesso, é com o qualificativo 'erótico' aplicado aqui. (...) o que me desagrada não é apenas o facto de o adjectivo 'erótico' ter uma valor comercial seguro, é que se trata aqui de algo de mais bruto, mecânico e 'simples', não de um jogo da sugestão ou da alusão licenciosas, mas sim do linguajar obsceno, solto e lúdico a que o soneto é obrigado, de uma variação do rebaixamento carnavalesco (Bakhtine). Talvez se possa retomar a noção de tradição fescenina, a palavra ainda vem nos dicionários". Mais do que isso. Aparece como título no último romance de Ruben Fonseca. Talvez o Manuel Gusmão ainda se lembre ("ao tempo que isso foi", como diria o Fernando) de quando éramos assistentes na Faculdade de Letras e nos distinguíamos a nós próprios entre os "millerianos" e os "bataillianos". Sem sombra de dúvida, o Fernando Assis Pacheco era um "milleriano" puro. "
ResponderEliminar(Por Eduardo Prado Coelho)
UM VENTO LEVE,UMA ESPUMA
Do beijo fica um sabor,
do sabor uma lembrança,
um vento leve, uma espuma.
Do beijo fica um sereno
olhar, o amor de coisas
minúsculas e humildes,
um pássaro que vai e vem
da nossa boca às palavras.
Do beijo fica, suprema,
a descoberta da morte.
Um vento leve, uma espuma
salgada, à flor dos lábios.
"Musa Irregular" (poema 10)
Boa noite, Né. Boa noite, XII.
ResponderEliminarSó ao lusco-fusco dei pela gralha (das grandes, para desfazer o dueto e encetar o trio) que deixei entrar na nave às 16 e 16: logo no primeiro verso, a «manhã» ficou destilada e virou (finória) «manha».
Para compensar mais este pérfido lapso (fico freudiano quando isto me acontece), recorro a duas quadras e dois tercetos de Fernando Assis Pacheco (cuja escrita me acompanha desde o inesquecível DIÁRIO DE LISBOA, ainda andava eu pela puberdade e havia vespertinos):
SONETO CONTRA AS PESPORRÊNCIAS
É favor não pedirem a esta poesia
que faça o jeito às alegadas tendências
do tempo nem às vãs experiências
que sempre a deixaram de mão fria
o que iria bem mas mesmo bem seria
num jornal a coluna das ocorrências
as coisas da vida mais que as pesporrências
editoriais do comentador do dia
o que vai mal com ela são as petulâncias
de que se vestem muitas redundâncias
dando-se públicos ares de sabedoria
que o leitor farto das arrogâncias
magistrais troca por outras instâncias
onde pode mandá-las pra casa da tia
in A PROFISSÃO DOMINANTE (plaquete composta em 1982)
Buon Compleanno, Renata!
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=X_0eOqZPMmw
Boa Noite,Hélder.
ResponderEliminarGosto muito desse "estado Freudiano"! :))
Já que a Renata teve direito a felicitações,também a Anna as tem!
Em uníssono com Isadora Duncan:
-Parabéns Anna! *
:) Boa noite, XII.
ResponderEliminarPelo prisma que passo a explicitar, ainda estou muito a tempo — aliás, estamos sempre a tempo — de congratular Анна Павлова («Toque bem suave o último compasso», she said), porquanto, pelo Borda d’Água gregoriano (e eu gosto tanto de canto gregoriano que nunca me farto de escutar “Georgia on my mind”), ela [*] perfaz cento e vinte e nove primaveras (ou antes, outros tantos invernos) a doze do dois.
A avaliar pelo calendário juliano, o parágrafo precedente não passa de uma esfarrapada desculpa de «moi-même», desequilibrado dançarino (o salão ou «saloon» da nave não andará um tudo-nada à deriva — ou serão demasiados contorcionismos/condicionamentos... pavlovianos para o meu «pasodoble»?), mas foi a que se pôde arranjar numa segunda-feira, primeiro dia do mês.
Feliz Fevereiro, XII, Né, Tribo Zen & Holoteta! :)
___________
[*] http://www.youtube.com/watch?v=R3kPxWUbU50
Né, não só um grande poeta e um excelente romancista (o que eu me ri a ler ‘Trabalhos e paixões de Benito Prada’), como também um excelente jornalista. Tenho um livrinho da Asa que compila algumas das suas entrevistas (a, entre outros, Amália e Carlos Paredes), e são absolutamente deliciosas – alguém que sabia manter uma conversa, e não esta treta pré-formatada que lemos hoje em dia.
ResponderEliminarO Fernando era e é notável. Houve parte de uma geração da qual me orgulho muito, muito, muito. :)
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