Surge uma mulher jovem acompanhada de outras duas mais velhas
com um caniche branco ao colo.
- É aqui que se entregam cães?
- ?
- Se é aqui que se podem deixar cães…
- Os cães e gatos que aqui ficam foram abandonados…
- Posso deixar o meu?
- Porque quer abandonar o seu cão?
- Eu não estou a abandonar!
(reparo que segura numa das mãos o livrinho das vacinas)
- Não? Então o que se passa para o “entregar”?
- É que não dá mais para o ter. Não dá. Tenho um bebé…
- Ele dá-se mal com o seu bebé?
- Não! Não! Antes pelo contrário!
- Então não estou a compreender (pensei que era mais um
problema de origem financeira que aí vinha. Entretanto as mulheres mais velhas
desaparecem.)
- O apartamento é pequeno… o cão até é do meu marido
que o tem desde cachorro…
- E que idade tem agora?
- Quatro anos!
- … (continuo à espera de ouvir a verdadeira razão para
a “entrega” do animal, que nesta altura já começava a estar nervoso. Os latidos
dos outros cães nas boxes subiam de tom. Depois de quatro anos, pensei, o que
se terá passado?)
- É que já não dá mais para o ter. Não dá.
- Mas o motivo, qual é?
- Olhe: ou dou amor ao cão ou dou amor ao meu filho!
- ??? E não pode dar aos dois? (estava pasma com o que
tinha acabado de ouvir) O amor é ilimitado (ainda acrescentei)
- A razão é essa (reforçou a mulher)
Chega o tratador da associação que esclarece sobre os contactos
que deve fazer e entrega-lhe um cartão com números de telefone.
- Vamos Bobby! (diz a mulher enfastiada). Amanhã volto
cá.
-?!
Deixar o cão na beira da estrada ou no mato seria muito pior, claro. A questão que me ficou a martelar foi a razão apresentada: ou se ama o filho ou se ama o cão?
O amor é um sentimento multifocal. É, segundo a psicologia, uma confluência de paixão, intimidade e união. Está ligado a numerosas emoções e influencia os comportamentos. O amor, ele próprio, combina-se com sentimentos de fundo como a excitação, o bem-estar, o entusiasmo e a harmonia.
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