Decorria o ano de 1976 e Torres Novas, como todos os concelhos de Portugal ia despertando para uma realidade a que não estavam habituados antes do 25 de Abril de 1974: a possibilidade de uma intervenção individual ou colectiva na criação de estratégias de acção em todos os sectores da vida dos portugueses.
No campo da reabilitação e sobretudo intervenção das pessoas portadoras de deficiências, muito pouco se fizera até então. Milhares de crianças e jovens eram privados de acesso aos estabelecimentos de ensino por simples ausência de um ensino especial. Nem tão pouco legislação que permitisse que o ensino regular recebesse muitos casos, naquela época considerados "perdidos" para o ensino e entendidos como uma obrigação familiar a suportar.
No Distrito de Santarém, a exemplo de outros distritos, surgem em 1975/1976, os primeiros movimentos associativos, criados de iniciativa popular e sem fins lucrativos, desejosos de abrir portas á população deficiente com o único objectivo de lhes proporcionar meios para se reabilitarem e se integrarem socialmente.
Em Tomar nasce nessa época o CIRE - Centro Infantil de Recuperação, tendo como grande dinamizadora a Dra. Etelvina Pires Marques, Técnica de Serviço Social da segurança de Santarém, que foi divulgando formas de apoio oficiais, dando como exemplo o seu então recente CIRE.
Era militar nessa altura em Tomar o torrejano Mário Jorge Duarte que ao visitar esse Centro ficou muito sensibilizado ao ponto de procurar o seu amigo e Chefe do Corpo Nacional de Escutas em Torres Novas, Pedro Paulo Ramos Ferreira, sugerindo-lhe e motivando-o a criar um movimento igual ao CIRE.
Assim aconteceu e após algumas visitas ao CIRE e de contactos vários, foi convocada uma primeira reunião na sede dos Escuteiros de Torres Novas, no velho Salão do Salvador, tendo sido convidados para essa e outras reuniões que seguiram técnicos de saúde, parceiros sociais diversos, pais de crianças e jovens deficientes e por último a população em geral.
Criou-se uma Comissão Instaladora que percorreu todo o concelho a fazer um levantamento de casos, que preparou Estatutos, angariou sócios auxiliares, estabeleceu contactos oficiais e particulares, procurou instalações em JULHO de 1977, na Conservatória do Registo Notarial de Torres Novas, é oficialmente criado o CRIT - Centro de Recuperação Infantil Torrejano
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Através do benemérito Bernardim Raposa Sousa D'Alte Espargosa conseguiram-se as primeiras instalações a titulo de empréstimo na Quinta das Ferrarias, instalações que foram adaptadas com imenso apoio popular, de muita gente anónima, de muitas empresas e que terá feito ganhar muita coragem para o processo avançar e se desenvolver de uma forma impressionante ate hoje.
Em Setembro de 1978, já com cerca de 2.000 sócios auxilias, com reportagem televisiva (ainda a preto a branco), era anunciada a inauguração do nosso CRIT, que iria receber a 1 de Outubro desse ano, as primeiras 25 crianças de cerca de 20 lugares do concelho de Torres Novas.
Em 1982, após um percurso de sucesso e de muitos sacrifícios, o CRIT conseguia meios da própria associação e um subsidio estatal para adquirir o Casal das Vinhas Mortas, com cerca de 10 hectares, local onde hoje se localiza a sua sede social, hoje já integrado em plena zona urbana da cidade de Torres Novas, numa Avenida de nome Bom Amor.
Em 20 de Junho de 2002, fruto da evolução da própria obra e da sua envolvente regional, foi necessária uma adaptação à nova estratégia de intervenção social que não se limitasse à classe infantil, e aproveitando a mesma sigla "C.R.I.T.", passou a designar-se oficialmente, Centro de Reabilitação e Integração Torrejano.
Actualmente o CRIT comemora o seu 30º aniversário, não com 25 mas com cerca de 600 utentes semanais, com perto de 100 funcionários, gerindo um orçamento anual de cerca de 2 milhões de euros que englobam múltiplos projectos de índole social e alargando o seu âmbito de acção aos concelhos de Alcanena, Golegã Chamusca, Entroncamento e Ourém. O CRIT, como há 30 anos, continua com o mesmo espírito e o mesmo objectivo: solidariamente e sem qualquer intuito lucrativo, procurar sempre melhorar a qualidade de vida dos que dos seus cuidados necessitam.