segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Léah e a sua breve estória :)

A última desta tribo a ser adoptada nasceu no dia de  Barbara Strozzi (cantora e compositora do séc. XVII), Louise de La Vallière (amante de Luís XIV), Edith Roosevelt (mulher do presidente) e de Andy Warhol e Baden Powell também.
Quando a vi pela primeira vez foi uma paixão absoluta que me fez lembrar a paixão por Sophia, a minha pretinha querida que alguém mal quis e matou.
Esta miniatura de olhos imensos, expressiva, curiosa, alegre e tão cheia de vida, pareceu ter sido  enviada por Sophia para que o meu desgosto pudesse  ser atenuado e eu passar a recordá-la, agora, com um sorriso estampado. Contudo, o lugar dela continua vago porque nada a substitui...






Não tinha previsto que a família peluda crescesse, não sabia que nome lhe havia de dar. Fui a correr buscar comida para gatinhos e brinquedos novos, trouxe-a para casa e, apesar de ter 5 pontas de narizes muito curiosas sobre aquele montinho de pêlo  nos meus braços, decidi que não era o momento para apresentações e leveia-a para o meu quarto. Antes de adormecer olhei-a tão indefesa e agora entregue aos meus cuidados. Como vai ser amanhã?



 Acordei na manhã seguinte a chamar-lhe Léah. Tinha sonhado com o livro e o nome a sair-lhe da capa em tamanho gigante. Não sei porque aconteceu, uns dias antes tinha estado  a falar sobre a expressividade  criadora e irreverente de José Rodrigues Miguéis e da injustíssima pouca divulgação da sua obra.
Fora uns apontamentos ocorridos no centenário do seu nascimento (há 11 anos) sinto que é pouco acarinhado e reconhecido o homem cujo discurso sempre se renovou através de uma profunda e séria visão humanista da vida e do mundo (referido na altura pela Ed. Estampa).

Mas retomo a estorinha de Léah, que por causa de um sonho assim se ficou a chamar, e a recepção que a esperava.
Tenho a felicidade de viver com uns peludos e patudos que são o melhor que se pode desejar. Às vezes ladram alto, outras  roubam um peixinho pronto a ser servido, mas parece que entendem que quem chega da rua precisa de ser protegido, tal como eles foram, dando sempre as boas vindas. Não há lutas, nem rosnadelas, nem unhas de fora.

Começou assim



continuou assim


assim

e assim


Surgirão mais estórias de Léah para ilustrar esta página, as dela e as dos que fazem parte da tribo. Com este exemplo  "desconcertante" acredito que tenham atingido um patamar muito acima do nosso. Sabem viver!
 ❦

domingo, 11 de novembro de 2012

Nina

Adormece com música
 
 Desperta para cantar
 
Volta a adormecer ao sol
 
 
gostos musicais: Enya, Maria Rita, Lisa Gerrard, Gal Costa (esta não consigo entender porquê);
 
factos diversos: escovadelas, capa para a chuva, patinho de borracha com som, colo, sofá, pão de soja e sementes, banhinho, telemóvel do mano de 2 patas (?)
 
curiosidade permanente: WC dos gatos
 
obsessões: "amamentar" Léah (que já percebeu que dali não sai nada...)
 
brincadeiras: correr na relva com Eva; fazer de gata com Léah
 
 
 
 
*adereços extra na fotografia: pêlos felpudos da Eva

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Iluminuras

Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.

Arnaldo Antunes

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Prazos

 
 
 Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,
com os sonhos debaixo do manto.
A vida, infindável para o trabalho
e para o fastio,
dá-nos apenas um dia para o amor.
 
 
 Rabindranath Tagore in As coisas transitórias

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Abatam-se outros cavalos

É  BESTial...
 
Dinheirinho a entrar à conta de éguas prenhes até mais não, olho a reluzir sobre os compradores, morgadinhos empertigados nas suas fatiotas de feira, o culto do cavalo do tempo do bisavô bla bla bla, o negócio começa a titubear, eh lá!  
E agora meus senhores? Vamos lá abater o que se procriou...  danada desta crise...
 
Mas isto resolve-se assim?
A crise foi consentida por quem votou na porcaria que se repoltreou neste poder com poderes para se arvorar em deus e decidir quem vai mandar abater.
 
Ler
entrevista Veiga Maltez

e pensar no rumo que os humanoides estão a tomar.


sábado, 3 de novembro de 2012

Breve estória após um dia junto dos abandonados


Surge uma mulher jovem acompanhada de outras duas mais velhas com um caniche branco ao colo.

- É aqui que se entregam cães?

- ?

- Se é aqui que se podem deixar cães…

- Os cães e gatos que aqui ficam foram abandonados…

- Posso deixar o meu?

- Porque quer abandonar o seu cão?

- Eu não estou a abandonar!

(reparo que segura numa das mãos o livrinho das vacinas)

- Não? Então o que se passa para o “entregar”?

- É que não dá mais para o ter. Não dá. Tenho um bebé…

- Ele dá-se mal com o seu bebé?

- Não! Não! Antes pelo contrário!

- Então não estou a compreender (pensei que era mais um problema de origem financeira que aí vinha. Entretanto as mulheres mais velhas desaparecem.)

- O apartamento é pequeno… o cão até é do meu marido que o tem desde cachorro…

- E que idade tem agora?

- Quatro anos!

- … (continuo à espera de ouvir a verdadeira razão para a “entrega” do animal, que nesta altura já começava a estar nervoso. Os latidos dos outros cães nas boxes subiam de tom. Depois de quatro anos, pensei, o que se terá passado?)

- É que já não dá mais para o ter. Não dá.

- Mas o motivo, qual é?

- Olhe: ou dou amor ao cão ou dou amor ao meu filho!

??? E não pode dar aos dois? (estava pasma com o que tinha acabado de ouvir) O amor é ilimitado (ainda acrescentei)

- A razão é essa (reforçou a mulher)

Chega o tratador da associação que esclarece sobre os contactos que deve fazer e entrega-lhe um cartão com números de telefone.

- Vamos Bobby! (diz a mulher enfastiada). Amanhã volto cá.

-?!
 
Deixar o cão na beira da estrada ou no mato  seria muito pior, claro. A questão que me ficou a martelar foi a razão apresentada:  ou se ama o filho ou se ama o cão?

O amor é um sentimento multifocal. É, segundo a psicologia, uma confluência de paixão, intimidade e união. Está ligado a numerosas emoções e influencia os comportamentos. O amor, ele próprio, combina-se com sentimentos de fundo como a excitação, o bem-estar, o entusiasmo e a harmonia.
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Pão por Deus


 
"Ó tiazinha dá pão por Deus?
Se o tiver e não quiser dar, Deus lhe parta o alguidar!"
 


"Pão, pão por Deus
à mangarola,
encham-me o saco,
e vou-me embora"
 
"Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus."

"Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu'estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz"
 
Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
P´ra vir dar um tostãozinho."
 
        Quando os donos da casa dão alguma coisa:
    "Esta casa cheira a broa
    Aqui mora gente boa.
    Esta casa cheira a vinho
    Aqui mora algum santinho."
     
    Quando os donos da casa não dão nada:
     
    "Esta casa cheira a alho
    Aqui mora um espantalho
    Esta casa cheira a unto
    Aqui mora algum defunto."