domingo, 9 de dezembro de 2012

Não devia



 
 
Sobre a notícia do aumento de maus tratos físicos nas famílias onde não havia este tipo de comportamento, recordei-me de um episódio que presenciei há 1 ano no Modelo de Torres Novas. 

 Uma família de classe média, pai, mãe, muito bem vestidos e com uma imagem de família próspera, um jovem de cerca de 14 anos, cabelo comprido penteado para o lado e uma menina de 6 ou 7 anos pela mão da mãe, estavam às compras como eu. Na banca da fruta o jovem aproximou-se do pai e disse-lhe a
lgo em voz baixa. O pai não respondeu. Continuou a meter a fruta no saco (lembro-me que eram laranjas) e o rapaz foi ter com a mãe.

Quando se estava a encaminhar para ela e para a irmã o pai volta-se de repente e por trás dá um soco enorme nas costas do filho. Este virou-se com um ar espantado e de dor, com os olhos cheios de lágrimas a olhar para o pai. A mãe que assistiu a tudo não foi capaz de nada. Eu que já estava parada a observar a situação senti uma raiva subir por mim e comecei a dar a volta à banca (pois estava do outro lado de frente para o tal pai) disposta a dar um bofetão naquele tipo. O meu filho segurou-me no braço e arrastou-me dali com toda a firmeza enquanto me dizia: Mãe! O que vais fazer??? Não podes bater no homem!

E saí do Modelo a chorar desalmadamente pelo miúdo, pela expressão incrédula que lhe vi, chorei de raiva por um pai socar cobardemente pelas costas o seu próprio filho. Chorei por me sentir impotente e não se fazer justiça ali naquele momento. Chorei por todas as crianças e jovens que todos os dias são tratados desta e de outras formas diabólicas.

 Nunca mais me esqueci do rosto daquele miúdo, da imagem da família com roupas de marca e ar próspero e daquele violento soco.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Dentro da nave