domingo, 23 de junho de 2013

Oito semanas depois - Uma tournée e muitas viagens no tempo

Esta semana, para além das sessões que constam do programa do hospital, foi consagrada à "tournée" da Anima Tuna. As minhas colegas, juntamente com a equipa de enfermagem estagiária, fizeram concertos em várias escolas e, também,  na sala de palestras do hospital. 

Eu participei como fotógrafa da digressão.

Não conseguindo estar ligada à música desta forma, tentei não me excluir procurando um motivo útil. E que melhor senão o de registar as expressões que se abriram diante de palmas calorosas e elogios? As minhas colegas estavam felizes.

O público pequenino é muito exigente e reage espontâneamente quando a coisa não corre bem. A tuna foi um sucesso junto destas crianças que cantavam e batiam palmas com entusiasmo. 

Houve, porém, uma manhã em que eu não consegui participar. Os meninos do infantário, de chapéus amarelinhos, agarrados uns aos outros pelos bibes foram de encontro às memórias de uma infância que ainda não consigo superar. 
A Enf. C. que adora fotografia executou muito bem a reportagem.

Das muitas fotos tiradas seleccionámos 452. Destas serão escolhidas umas quantas para ilustrar estes momentos no jornal do hospital de psiquiatria. 

Aqui fica um cheirinho...




Prossegue o levantamento das portas da cidade (a menina dos meus olhos, da M. e da V.) que está em fase de revisão. 
Fomos ao terreno com as enfermeiras estagiárias para fotografar, tirar coordenadas com o GPS, visitas essas que se repetem para cumprir  o rigor que desejamos.

Uma das últimas saídas implicou um estratagema para identificarmos a localização de uma das portas que há muito não existe na zona ribeirinha. Seguindo uma iluminura de Pier Maria Baldi (séc.XVII) a M. com as enfermeiras Marlene e Catarina posicionou-se à entrada da ponte D. Luís, no sentido Tapada/Santarém.  A enf. Marlene (responsável pelo levantamento fotográfico) tirou várias fotos que centravam a cúpula da Igreja de S. João Evangelista situada no Alfange, apanhando postes de electricidade pelo caminho para depois se fazer uma linha até ao rio com um ângulo de 45º. Aí, e segundo o que a iluminura revela, estaria a porta desaparecida.

Fazia imenso calor, lembro-me bem... regressámos ao local das nossas investigações e caminhámos até chegar ao dito ponto. Mas não foi assim tão fácil. Precisámos de identificar os postes de electricidade pelo caminho, bem como alguma vegetação que se via nas fotos captadas anteriormente. Mas acreditamos que demos com a Porta das Almas, hoje um local de vegetação por cima de um muro.

Estas portas foram totalmente destruídas aquando da construção da linha de caminho de ferro, no séc.XIX, o que gerou muitos protestos por parte da população.

Aliás, nesta altura, a destruição era a palavra de ordem em nome de uma modernização que depois utilizava a pedra das muralhas e portas para calcetar as ruas ... a este propósito escreveu Alexandre Herculano:

Santarém, sendo uma das povoações do reino mais rica em monumentos, parece que por isso mesmo tem merecido mais o ódio de certa gente, que das três potências da alma, memória, entendimento, e vontade, só admite a última; e com razão: porque, para fechar e descarregar uma camartelada, é mais que suficiente.


 Por aqui foi a Porta das Almas

 Aqui ainda se vêem vestígios da Porta de Palhais

Entre o final do muro à esquerda e as árvores foi a Porta de Valada


Este trabalho, por tudo o que implica, é apaixonante. De uma bibliografia passamos para outra fonte, mais o contacto com arqueólogos e historiadores que trabalharam neste tema, mais uma ida ao núcleo museológico, mais um pedido de esclarecimento nas dúvidas que se colocam, porque somos leigos e queremos muito aprender, sobretudo fazer uma apresentação dos acontecimentos o mais rigorosa possível.

Penso que quando se conhece melhor o local onde vivemos mais respeito e admiração lhe temos, mais cuidado com a sua preservação desejamos. E eu desejo que tudo isto não se perca porque foi fruto de muito trabalho e sacrifício daqueles que a história não reza, da maioria que não tem o nome gravado em placas comemorativas, os anónimos insubstituíveis e indispensáveis na construção de um tempo.


1 comentário:

  1. Olá,Né.Desejo que,quando for possível,essa dor tão funda se transforme numa imensa mandala formada pelas flores da Esperança.Beijinhos.

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